Em sua palestra no WebSummit 2025, intitulada “The 95% AI”, o professor do MIT, Max Tegmark, lançou uma provocação poderosa: 95% dos americanos não querem uma corrida rumo à AGI, mas sim ferramentas seguras, éticas e úteis capazes de resolver os grandes desafios humanos, e não de substituir o próprio ser humano. Essa visão, que ele chama de a “IA dos 95%”, propõe uma revolução silenciosa: abandonar a obsessão pela superinteligência e investir em sistemas que ampliem nossa capacidade de pensar, criar e cuidar.

Há uma sabedoria profunda nessa postura pragmática. A busca pela AGI (máquinas com capacidade cognitiva equivalente ou superior à humana) vem sendo tratada quase como um Santo Graal tecnológico. Mas Tegmark propõe um desvio de rota: por que perseguir a imortalidade da máquina quando ainda não resolvemos os problemas mortais da humanidade?

Aplicações práticas de IA já demonstram que o progresso não depende da superinteligência. Modelos especializados em diagnóstico médico estão salvando vidas, assistentes de codificação tornam o desenvolvimento de software mais confiável, e sistemas de automação intelectual estão libertando pessoas de tarefas repetitivas para que se concentrem em criatividade e decisão. A revolução, portanto, não está em criar deuses digitais, mas em construir ferramentas que funcionem e potencializem o ser humano.

Outro ponto central na fala de Tegmark foi o conceito de AI for Truthfinding, o uso da inteligência artificial para buscar e preservar a verdade. Em tempos de desinformação massiva, ele sugere que algoritmos podem ser treinados para detectar vieses, corrigir distorções e promover transparência. Imagine uma IA capaz de checar fatos em tempo real ou de mapear bolhas cognitivas que distorcem o debate público.

Essa visão desloca o papel da IA de um potencial vilão para um aliado ético, uma força de correção num ecossistema saturado de ruídos. Se bem implementada, a IA dos 95% poderia se tornar um antídoto contra o colapso de informações que ameaça democracias e instituições.

A história mostra que a humanidade sabe frear quando o perigo ultrapassa o encanto. Rejeitamos as armas biológicas, regulamos a energia nuclear e limitamos a clonagem humana. O conceito de que a superinteligência é inevitável, portanto, é um mito. Assim como em outros campos, o avanço ético e regulado é o que garante longevidade e estabilidade ao progresso.

A “IA dos 95%” é o próximo capítulo dessa maturidade coletiva. Se adotada como filosofia global, essa abordagem pode redefinir o que entendemos por inovação. O verdadeiro poder não está em replicar a mente humana, e sim em amplificar o que ela tem de melhor. O futuro da IA não precisa ser superinteligente para ser extraordinário, mas precisa ser confiável, transparente e centrado no ser humano.