Resiliência em tempos de distanciamento social
Maísa P. Pannuti*
Em meio à experiência que o mundo todo está vivendo, ainda não é possível mensurar o impacto do distanciamento social em nossas vidas, dada a complexidade desse fenômeno e a incerteza do que nos aguarda. É fato, porém, que o estresse, a ansiedade, o medo e a angústia são sentimentos que, em maior ou menor escala, muitos de nós estamos experimentando, muitas vezes de forma inconsciente, mas que se expressam em momentos de agitação, raiva e impaciência.
De maneira abrupta, nossas relações foram transformadas, a fim de que possamos lidar com esse inimigo que, invisível a olho nu, em nossa mente é representado como o símbolo do perigo. Mas, o que podemos aprender com essa experiência? E os pequenos? Como será que percebem e lidam com essa situação? Para isso, vale a pena refletir sobre dois aspectos: a resiliência, que é a capacidade que desenvolvemos em nos adaptar a situações adversas; e a forma como temos educado nossas crianças.
As crianças são muito mais resilientes do que podemos imaginar, e a tendência natural dos pais protegerem seus filhos, algumas vezes, pode levar à falsa interpretação de que eles estão sofrendo em demasia, dadas as limitações que a situação exige. Mas o fato é que eles descobrem formas incríveis e engenhosas de lidar com as adversidades.
O momento sugere uma reflexão a respeito de como estamos educando nossas crianças. Não é sem preocupação que temos verificado a dificuldade de alguns em relação à imposição de limites e de responsabilidades aos filhos. Muitos têm se eximido dessa árdua tarefa de impor restrições a eles, o que, inevitavelmente, trará frustrações. Ora, mas um aspecto fundamental que deveria ser considerado é que a família é o espaço mais protegido para a criança frustrar-se e sofrer, pois é o local mais cheio de amor.
Educar uma criança não se restringe a proporcionar oportunidades para que aprenda e desenvolva competências para um futuro promissor, mas sim consiste em desenvolver sua autonomia para que tome boas decisões, o que implica levar em conta o outro, respeitar e ter valores morais sólidos. Qual seria então o papel da frustração no desenvolvimento, uma vez que aprender a se colocar nesse mundo, que é muito complexo, exige uma estrutura emocional que sustente todas as inúmeras adversidades a serem vividas? Se a criança não aprender a lidar com as inevitáveis frustrações que a vida nos impõe, é possível que tente, na adolescência e na idade adulta, outros subterfúgios para sentir-se bem.
Os pais devem cumprir um importante papel de, ao mesmo tempo, proteger seus filhos, mas também informá-los sobre o que está acontecendo. Proteger não significa omitir informações, o que pode gerar ansiedade nas crianças. Sem alarmismos, é importante que a família abra um canal de comunicação sobre o que está acontecendo e de que forma a família, junta, irá passar por esse momento. E deixar claro que isso vai passar...
Para os pequenos, o tempo antes das atividades externas deve ser aproveitado para brincar livremente: a criança precisa de espaço para brincadeira, atividade fundamental e um desenvolvimento emocional saudável. Temos assistido a uma explosão de criatividade de pequenos, como muitos pais que, em seus filhos, para receber melhores forma de filhos, têm cabanas construídas no meio da sala, artes de artes, assim como se transformam em professores e super heróis… Uma boa idéia é criar um quadro de tarefas para cada pessoa, incluindo crianças pequenas ... Atividades como plantas molares, alimentos para animais, guardar brinquedos e guardar a cama são formas dos pequenos itens que fazem parte desse momento.
O que podemos então aprender com essa pandemia? Valorizar o trabalho muitas vezes invisível, essencial, aqueles que faltam agora ou que estão trabalhando por nós; que crianças podem e devem fazer parte das tarefas domésticas, ou que causam um enorme senso de responsabilidade por suas ações (certamente esperado antes de deixar roupas e brinquedos espalhados); ao alimentar seus animais de estimação, desenvolver responsabilidade pela vida de um ser; que não precisa ser deslocado tantas vezes, pode impedir o trânsito e a poluição, pode substituir algumas atividades ativas pelo meio digital.
"Quando esta fase passar, o que restará?", Muito se perguntando. "Será que sair dessa situação mais resistente para outras que apresentar?" Eu aposto que sim, e que os sobreviventes dessa pandemia serão aqueles que, ao sair dela, conseguirão ressignificar sua vida. Mas, para isso, temos que estar bem, temos que cuidar, afinal de contas, somos referência para crianças!
* Maísa P. Pannuti, Doutora em Educação, Assessora de Psicologia do CIPP - Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento e Supervisão do Serviço de Psicologia Escolar - SerPsi - do Colégio Positivo.